terça-feira, 27 de março de 2012

Crónica de Luís Baptista no Blog da A.I.J - 27/03/2012

Entre o bastão e a parede
Luís Baptista* - luisbaptista.net@gmail.com

Para quem, como eu, tem participado nas várias manifestações dos últimos tempos - as da central sindical de classe (CGTP) e outras marcadas por vários movimentos e plataformas -, facilmente percebemos que um cenário de guerra, como aquele que aconteceu na tarde de 22 de Março, era inevitável.

Primeiro, porque ao agudizar-se a luta de classes, assistiremos naturalmente a um processo de radicalização da luta social e a uma consequente resposta repressiva por parte do poder dominante. Segundo, porque desde os incidentes da última greve geral, a 24 de Novembro, uma espécie de espinha ficou encravada nas gargantas do povo e da polícia. Como que esperando o pretexto, numa pequena mas combativa manifestação, e quando se voltaram a extremar posições durante os piquetes de greve, caiu a espinha pela goela, isto é, bastonada abaixo. Terceiro, porque a agressividade da resposta policial é, em larga medida, explicada pela correlação de forças entre quem protesta e quem reprime. E naquela tarde de quinta-feira, a correlação de forças era vantajosa para as autoridades.

Isto é de estranhar? Não. Sabemos que a polícia está ao serviço da classe dominante, independentemente da solidariedade individual de cada um. Não se podem posicionar contra quem lhes paga o salário ao fim do mês. Qualquer desobediência a uma ordem da hierarquia pode acabar em despedimento, risco que os agentes da autoridade não estão disponíveis a correr. Primeiro temos que ganhar o povo, só depois as forças da ordem!

Conscientes de que outros confrontos se seguirão, restam-nos as organizações sociais, os sindicatos (de confiança!), os movimentos e plataformas, a população em geral, para refletir sobre as estratégias que devem ser seguidas e sobre a resposta que deve ser dada. Sabemos que a disponibilidade de cada individuo para resistir à repressão não é igual. Sabemos também que há factores de ordem social, cultural, geracional e política, que condicionam esta discussão e uma tomada de posição.

Tenho defendido que deve começar um processo progressivo de radicalização das formas de luta politica e social. Nós, os jovens, estamos mais disponíveis para adoptar essas formas de luta. Contudo, isso só pode acontecer ganhando primeiro as pessoas, sem radicalismos autodestrutivos e infantis. Este processo só é possível com maior consciencialização colectiva.

Se eu tiver de escolher entre defender um polícia ou um companheiro de luta, não hesitarei um segundo. E outra coisa também é certa: com ou sem polícia, com ou sem cassetete, com ou sem sangue, o capitalismo que se cuide. Entre o bastão e a parede, a luta dos trabalhadores e da juventude sai reforçada!

*Estudante de Ciência Politica e Relações Internacionais na FCSH-UNL e Dirigente Associativo (A.I.J). O autor colabora pontualmente com Blog da Associação Iniciativa Jovem.

3 comentários:

  1. Cada vez se aclaram mais os campos, e é visivelmente esmagador..
    Dum lado a Classe Operária, e as suas organizações, e do outro os usurpadores e seus lacaios.

    O Nosso Dia Chegará.

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  2. Quanto à análise do estado em que o país se encontra concordo contigo, mas discordo totalmente em relação às medidas a tomar.
    É impossível alcançarmos paz através da violência... o que se viu na quinta foi a irracionalidade e desespero dos 2 lados que se virmos bem, são apenas 1!
    A nossa luta é contra o Governo, e não contra a polícia.
    A necessidade de sermos vistos e respeitados (pelo Governo) deve ser demonstrada através da mobilização e consciencialização constante, e consequente crescimento em número e em vozes para a Luta. Nunca através de actos de vandalismo, violência e guerrilha... pois isso só mostra irracionalidade e frustração pela curta representação que ainda temos.
    Se o que queremos é um país próspero e pacífico, qual o sentido de apoiarmos a guerra? No final de tudo, qual vai ser o nosso crédito?
    VAMOS MOSTRAR-LHES QUE SOMOS MUITOS, DO MESMO LADO! E QUE A NOSSA MAIOR ARMA É A NOSSA VOZ. JOVENS, ADULTOS, IDOSOS, "TODOS TEMOS UMA VOZ"!

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  3. Venho por este meio deixar o meu comentario e deixar a minha opniao sobre o que escreveste e sobre este assunto...
    Acho que tens muita razao em alguns aspectos e pontos a que te referes, mas tambem estou em completo desacordo noutros pontos e aspectos.
    Do meu ponto de vista sejam quais forem os representantes do nosso governo nada se irá alterar em relaçao aos nossos pontos fracos (trabalho, condiçoes de vida, estudos, etc...), todos nós devemos lutar pelo que queremos e se de facto queremos um país melhor com melhores condições de vida devemos acima de tudo lutar para que se criem outros pontos de vista em relação ás nossas "crises", o que estamos a atravessar hoje em dia não é mais do que mera expeculaçao ampliada pela nossa comunicaçao social... se todos lutassem para ter melhor e fizessem o q as leis de impostos obrigam o país recuperaria, mas ninguem liga a esse campo pois cada um so olha pro seu umbigo... é triste ver que nos principios dos anos 90 tudo parecia diferente pois todo o povo era mais unido e social, todos socializavam sem medos nem receios...
    As agressoes que se passaram na manifestaçao podem ter sido exageradas mas ponham-se na farda e na posiçao de cada policia la presente e digam o q faziam...
    eles estavam apenas a cumprir ordens...
    nao os condenem pois eles ao menos ainda fazem algo por nós (povo)...
    O povo de hoje esta mal habituado, querem isto querem aquilo e nada fazem por isso, exigem que lhes seja dado...isso é errado pois todos devemos suar e lutar pelo que queremos para que isso tenha algum valor e significado.
    Lutemos em silêncio e com desprezo pois o desprezo é a nossa melhor arma e o silêncio ninguem podera condenar...
    Não gritem não exijam... mostrem apenas que nao queremos estar assim como estamos atraves de manifestaçoes e marchas silenciosas... pq assim como alguns se têm manifestado não nos leva a lado nenhum...
    cumprimentos

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