Portugal: um país dois sistemas
Francisco da Silva*
É inevitável falar da educação novamente. A última ideia peregrina do ministro da educação é a de separar os jovens com mais dificuldades em aprender dos outros para que não perturbem as aulas.
Pretende criar turmas separadas a exemplo do que se faz nos estados unidos, deixando assim para trás aqueles que mais precisam de ajuda. Vários estudos apontam para uma correlação directa entre rendimento do agregado familiar e o desempenho escolar dos alunos: quanto menos condições económicas têm menor rendimento escolar apresentam. Compreende-se a ideia de Nuno Crato e do governo que tal como já fizeram nas faculdades querem empurrar os jovens para a ignorância.
É assim com a educação, tal como é assim com o serviço nacional de saúde e com a justiça.
Portugal é hoje um país com dois sistemas: um para os com mais rendimentos e outro para os mais pobres. O governo perdeu a vergonha há muito e está numa cruzada contra os justos direitos que os portugueses adquiriram ao longo de anos e anos da sua história.
A sociedade divide-se cada vez mais entre ricos e pobres, há a extinção da classe média a todos os níveis e agora também na escola pública passará a ser regra essa separação, para que os miúdos se habituem logo cedo que há dois tipos de pessoas: as que têm tudo e as que não têm nada.
A nós jovens compete-nos fazer frente a esta violência que o governo inflinge sobre nós dia após dia. Não podemos continuar a fingir que não sabemos quem tem a culpa, que não há outra maneira senão olhar para o chão e encolher os ombros enquanto se fuma o último cigarro a caminho de casa depois de mais um dia desperdiçado porque não há emprego nem futuro aqui.
A alternativa a anos e anos seguidos de dias iguais somos nós. Só nós temos força, capacidade e criatividade para mudar o jogo. Chega de fingir que a política é coisa de velhos e que não é para nós. A política não só é para nós como precisa de nós. Vamos deixar de viver vergados ao peso da inevitabilidade e exigir mudanças aos nossos políticos. Está na altura de tirar o tapete a esta gente que tanto tem denegrido a democracia e só nós o podemos fazer mais ninguém.
* O autor escreve às Quartas-feiras no Blog da Associação Iniciativa Jovem.
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