domingo, 22 de abril de 2012

Crónica de Francisco da Silva - 22/04/2012 / Interesseiros não interessam

Francisco da Silva*
Interesseiros não interessam
Quando somos jovens, tudo para nós se resume ao nosso grupo de amigos. Mais do que a família, são eles que estão connosco a maior parte do tempo exercendo uma certa influência sobre a maneira como nos comportamos, vestimos, falamos... Os amigos estão lá para nós e nós estamos lá para eles. Há um espírito de ajuda e de camaradagem que nos leva a preferi-los em detrimento dos demais, uma espécie de retribuição por tudo aquilo que eles nos dão.
Quando crescemos continuamos a ter amigos. Provavelmente menos porque o tempo e as vivências vão-nos ajudando a separar o trigo do joio e formamos assim o nosso núcleo duro.
Os amigos fazem parte da nossa vida e é óbvio que depositamos mais confiança neles do que em pessoas que não conhecemos de lado algum, até aqui nada de errado.
A questão que quero discutir com vocês, esta semana, é na minha opinião demasiado importante para ficar de fora do debate político: Há lugar para nomeações de amigos na política?
A política foi desde cedo a minha paixão e com a inocência que é característica nos jovens sempre pensei que dentro do nosso espectro ideológico remavam todos para o mesmo lado. Também achava que dentro do nosso próprio partido estava tudo empenhado em levar os projectos para a frente. Cedo fui descobrindo que a política é um mundo onde quem é amigo hoje, amanhã está a tentar arrasar contigo. Claro que há excepções: conheci muita gente que faz parte do meu núcleo duro, pessoas cuja amizade prezo e estimo e todos esses fazem esquecer as desilusões e enganos.
Fiz amigos também do outro lado da barricada: adversários cujo respeito, lealdade e honestidade na defesa dos seus ideais levaram a que uma boa relação se desenvolvesse.
Com tudo isto vai-se crescendo e aprendendo bastante. Aprendi que respeitar as amizades é não as atravessar na política. Não deixar que escolhas que dependam de ti sejam feitas com base em sentimentos de afinidade pessoal porque costuma dar mau resultado. Vi também muitas amizades destruídas e transformarem-se em ódios de estimação. Falo-vos nesta perspectiva porque a nível ético todos temos noção de que não é correcto e temos visto muitos casos de corrupção que partem desta lógica do “ajudar o amigo” que por vezes parece desculpável. Não só não é correcto para com os cidadãos, como não é algo que acabe por beneficiar os nossos amigos, pelo contrário. Se são nossos amigos é em troca de valores que não são materiais.
Se nos pedem favores, exigem cargos, negócios, benefícios profissionais e demais benesses são interesseiros que nos deixarão de lado assim que não lhes formos úteis. Misturar amigos com política é mau para os cidadãos, para nós e para eles. É uma má política.

*  O autor escreve às Quartas-feiras no Blog da Associação Iniciativa Jovem. Esta crónica refere-se ao texto da Quarta-feira passada que não pode ser publicado.

1 comentário:

  1. A política seria bem melhor se mais pessoas soubessem fazer política como o Francisco. Estes interesses interessam.
    Amigos, amigos... políticas à parte.

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