
Por: Tiago Flôr*
O ano de 2013 ficará marcado na História e nas nossas vidas como um ano de números.
O número do desemprego, da recessão económica, das falências, dos incontáveis Milhares de Milhões de Euros perdidos pelo Estado para a Banca, pelos Milhares de Milhões de Euros de uma Divida Soberana de origem não esclarecida, o número dos que têm que entregar a casa ao Banco ou ao Senhorio, o número dos que têm que abandonar o nosso país, o número dos que têm que abandonar o Ensino Superior pelas razões que bem conhecemos, o número de pessoas que deixam de poder ir ao Médico por falta de dinheiro para as Taxas Moderadoras, o número crescente das crianças e jovens que passam fome em casa e nas escolas, o numero de idosos que vivem sozinhos, abandonados e à fome…
Se os juntarmos a todos, vamos rapidamente perceber que por mais que na televisão e nos jornais, os grandes comentadores e “jornalistas” façam a apologia da receita da austeridade e das soluções de modelos económicos importados, o país em que vivemos não é o mesmo que o deles.
Há no entanto mais um número que convém fixarmos: 1165, o número de freguesias que a partir de dia 16 de Janeiro, por proposta dos partidos que assinaram o “memorando de entendimento” PS, PSD e CDS/PP, e por acção do Governo e do Sr. Presidente da Republica, deixaram de existir em Portugal.
A reforma do mapa administrativo local, ou reforma do mapa autárquico, tem-nos sido anunciada e justificada de diversas formas pela maioria que sustenta o Governo e pelos comentadores e jornalistas de serviço, escondendo sempre o impacto brutal e criminoso que terá sobre as populações um pouco por todo o país.
Liquidando mais de um milhar de freguesias e milhares de eleitos que são a voz das suas gentes e terras, afastando estes centros de decisão das populações, e procedendo a uma reorganização orientada para o benefício directo de partidos como o PS e PSD, esta reforma é em primeiro lugar um ataque à Democracia.
É uma reforma que tem como consequência directa o aumento das assimetrias locais e regionais, contribuindo para o isolamento e empobrecimento das populações, que tendo já ficado sem o centro de saúde, sem as escolas, os postos de correio, sem a polícia e sem as farmácias, ficam agora sem a única entidade pública e democrática que lhes resta, a freguesia.
Para muitos de nós que vivemos nas grandes cidades, esta reforma até poderá fazer algum sentido e em muitos casos nem vamos dar por ela. Mas atenção! A maioria do país não vive em Lisboa ou no Porto. Há toda uma realidade social e económica, toda uma realidade etnográfica, toda uma identidade histórica secular, que é brutalmente negligenciada e esquecida com este Governo e por esta reforma.
As populações têm por todo o país mostrado o seu profundo desacordo com este novo Portugal, recortado a partir dos Ministérios, que se esquecem que nós somos feitos de gente e não de números. A luta organizada ou espontânea tem surgido em locais e em terras de gente que nunca pensou manifestar-se contra o que quer que fosse. A luta contra este novo mapa tem surgido por parte dos que sempre disseram confiar neste Governo e que a luta nada resolve. A luta das populações em defesa da sua História, do seu património e da sua terra tem gerado a consciência de que derrotar este Governo e esta política é um desígnio imperioso para o Futuro dos trabalhadores, dos estudantes, da juventude, da nossa terra e de Portugal.
Em Outubro, quando fores eleger os órgãos da tua Autarquia ou da Autarquia do lado, lembra-te dos responsáveis pelo estado do Estado e lembra-te daqueles que sempre agiram na tua defesa e na defesa do teu futuro.
* Estudante de Relações Internacionais e morador na Freguesia de Carnaxide.